tag:blogger.com,1999:blog-17815839738352725102024-03-05T08:27:53.784-03:00senhor krauzeRomance de Alberto Lins Caldas.alberto lins caldashttp://www.blogger.com/profile/08441922955258124744noreply@blogger.comBlogger4125tag:blogger.com,1999:blog-1781583973835272510.post-56065928246656533522010-12-31T00:44:00.000-03:002010-12-31T00:44:18.360-03:00Entrevista com Alberto Lins Caldas<span style="font-size: x-small;"><span>Por Marcelo Ariel (os inícios dos parágrafos foram mantidos em minúsculas como nas respostas e textos do autor)</span></span>.<br />
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<b>1. O que significa para você ser um escritor em um país que vive em um abismo cultural e educacional, onde o analfabetismo total e o funcional são fatos consumados?</b><br />
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absolutamente nada! não considero q ser analfabeto seja índice de nada negativo em si, mas sempre pro mundo do trabalho. ser alfabetizado sempre foi uma questão fundamental pros donos do trabalho, pros patrões, pra formação dos trabalhadores. quanto mais limpinhos (daí a medicina, a biologia), educadinhos (daí as pedagogias), alfabetizadinhos (todos os métodos do mundo), mais bem localizadinhos (daí todas as engenharias), mais dóceis, melhores trabalhadores. por isso essa não é uma questão minha, mas do estado, da nação, da indústria e suas funções.<span id="fullpost"><br />
também por isso não sou escritor. o escritor é mais um funcionário, mais um produtor de mercadoria fina pros letrados e pros senhores dos letrados (seja a igreja, seja o estado, seja o leitor). uma espécie de masturbação de luxo. não miro, não quero melhorar nenhum pais, nenhuma nação, nenhuma língua, nenhum povo: sou contra qualquer país, sou contra o brasil.<br />
também não vejo nenhum “abismo cultural”. esse abismo existe apenas para qualificar mais e melhor os servos pro trabalho. na vida as pontes são criadas e destruídas o tempo inteiro. não é o “abismo” q impede a leitura principalmente porq a leitura jamais foi “liberdadora”, mas tão somente mais um mecanismo de dominação, um agenciador de menores e um leão de chácara dos maiores.<br />
a literatura é uma arma provisória de enfrentamento do horror, desse horror da vida do trabalho.<br />
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<b>2. Fale sobre seus livros e sobre a gênese de cada um deles?</b></span><br />
<span id="fullpost"><b> </b><br />
meus livros sempre foram o q denomino “enfrentamento do horror”. são armas de guerra contra a grande estrutura do horror (o país, a língua, o povo, o estado, a região, a religião, a escola...). e por ser uma mina múltipla, um vírus, uma arma contra algo eles nascem de um enfrentamento fora do tempo e do espaço: são vírus pra contaminarem fora desse momento e desse lugar: quem fica parado é poste. não me cabe fazer o papel de historiador, jornalista ou sociólogo. a literatura brasileira é perfeita nesse servilismo fundamental. quando é um enfrentamento não é jamais um documento, um índice, um sintoma, mas uma doença, uma insatisfação, um contra-lugar, um contra-tempo. como vão vivo nem viveria de literatura (capachos de poderes q camuflam sempre com uma escrita inocente), não preciso escrever pra leitores, pra editoras, pra livrarias. faço livros como quem cria contradições, cria nós, soltas bombras no meio da rua. qualquer coisa q pareça o contrário disso não é minha literatura.<br />
e em tudo o q exerço minha “visão de mundo” exerço como um deslocado, um ser estranho q vive pra minar o existente, o institucional, o estabelecido: jogo pra quebrar as regras, por não poder estar em outro lugar, outro tempo: aqui e agora é o campo e o momento da luta. por isso não pertenço a nenhum lugar, seja cidade, região, país ou mundo. escrevo como respiro: contra o horror.<br />
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<b>3. O que você pensa a respeito dos prêmios literários e da política editorial?</b></span><br />
<span id="fullpost"><b> </b><br />
a literatura brasileira nasceu como “projeto imperial” e “projeto republicano”: é uma oligarquia de cento e cinqüenta anos, feita por letrados pra letrados, sempre dentro de cânones estatais, nacionalistas, regionais, localistas, mentindo sempre serem universais (q é o mesmo q ser europeu!). uma literatura capacho e mentirosa q nada enfrenta. não passa das letras dos agregados das casas grandes, dos comércios, das lojas do século xix.<br />
os “prêmios literários” são mentiras pra manter uma corrente de mentiras q faz parecer valer o valor, mas o q vale mesmo é a proximidade (com oligarcas, com grupos, com porções de poderes, com a norma, com as mercadorias). medem apenas os círculos de poder da oligarquia das letras (literatura brasileira, letrados). quanto a “política editorial” é o mesmo da literatura brasileira. a oligarquia das letras enquanto sistema q inclui todos os letrados como cães de guarda da língua, do estado, da história e da nação, só pode fazer uma “política” essencialmente anti-literária, isto é, a favor de uma literatura já estabelecida em todos os seus campos, onde qualquer “novidade” é apenas uma nova mentira.<br />
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<b>4. Qual é o centro para o qual converge seu trabalho literário?</b></span><br />
<span id="fullpost"><b> </b><br />
sempre parte de um enfrentamento do horror. e converge pra essa mesma ação. por isso não é mimética como toda a literatura brasileira.<br />
é literatura contra a literatura brasileira e tudo q ela representa, contra todas as forças q sustentam ela e dela emanam. por isso é literatura sem centro e sem periferias. é jogo livre de forças contra o horror. um desmantelar as naturalizações e universalizações duma língua q não consegue soltar o colonizador, o patrão, o papa, o senhor das costas.<br />
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<b>5. O que é a alma, para você?</b></span><br />
<span id="fullpost"><b> </b><br />
absolutamente nada! o corpo e seu momento é o q existe. o corpo e seus jogos de criação de si mesmo e do mundo. o corpo em suas forças, em seus afetos espinosianos, nietzschianos, deleuzianos. alma é um dos conceitos metafísicos próprios dos valores estabelecidos. no meu campo de luta esse conceito é um dos meus inimigos.<br />
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<b>6. E a vida?</b></span><br />
<span id="fullpost"><b> </b><br />
toda prática e toda teoria q tem a vida como princípio esconde um mecanismo simples: salvar vidas, conservar vidas, manter vidas, defender vidas: valorar a vida tem uma função estratégica e tática, serve pralguma coisa (antes de significar ele serve de algo, serve a algo: ele significa pra servir: é teórico pra ser prático): valorar positivamente e salvar pra trabalhar, se reproduzir, consumir, servir: a escravidão, a exploração, as produções: vida q não trabalha, não se reproduz, não consome, não serve, não é a vida defendida (ou é forçosamente defendida: por extrapolações forçadas: a significação, nesse momento, parece ser essencial: a teoria supera a prática, o sentimento supera o operacional) por medicinas, filosofias, morais, políticas, educações.<br />
toda vida perigosa pra manada não é respeitada, mas eliminada, torcida até servir, silenciada até aceitar. a máquina tribal (ocidentalidade) precisa apenas de vida dócil (ou vida indócil é gerada e insuflada por vários meios quando “necessário”, no mínimo pra ficar como “exército indócil de reserva”). a idéia vida é noção “nazista”, tipicamente cristã-capitalista: mantemos, cuidamos, protegemos, curamos, alimentamos, educamos – pra q isso produza as produções, produza os consumos, produza as reproduções, e sirva: a máquina tribal faz e “sempre” fez o elogio profundo da vida, a prática radical da vida, reflexão necessária da vida pra salvaguardar os poderes, as forças necessárias da máquina tribal.<br />
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<b>7. Qual foi o primeiro livro lido por você que foi realmente decisivo ao ponto de modificar sua visão do mundo?</b></span><br />
<span id="fullpost"><b> </b><br />
não vejo nenhum livro com esse poder. o q pode é o enfrentamento contra os poderes e seus silenciamentos. os livros fazem parte do horror, são instrumentos do horror, repetições do horror. todos os livros q li faziam e fazem parte do meu enfrentamento contra o mundo, contra os outros, contra o horror. não sou nem jamais fui leitor pra aprender alguma coisa, mas pra discordar, discutir, avançar, ir sempre além do seu campo estacionário.<br />
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<span style="font-size: x-small;"><span><i>Alberto Lins Caldas é Mestre em História (UFPE) e Doutor em Geografia Humana (USP). Escritor, ensaísta e professor do Departamento de História da Universidade Federal de Rondônia-UFRO. Publicou os livros Oralidade, Texto e História (Loyola, São Paulo, 1999) e Nas Águas do Texto (2001) sobre História Oral; Litera Mundi (Edufro, Porto Velho, 2002) e Oligarquia das Letras (Terceira Margem, São Paulo, 2005) sobre literatura e literatura brasileira; Babel (Revan, Rio de Janeiro, 2001) e Gorgonas (Companhia Editora de Pernambuco, 2008) que são livros de contos, e Senhor Krauze (Revan, Rio de Janeiro, 2009) que é um romance. Colabora em várias revistas literárias e blogs de literatura e arte. É editor da revista on line Zona de Impacto, especializada em Teoria da História, Literatura, Filosofia, Educação e Arte.</i></span></span> </span><br />
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Publicado por Marcelo Ariel<br />
<i>Marcelo Ariel é membro da Resistência Literária Armada, e está pronto pra derrubar o sistema.</i>alberto lins caldashttp://www.blogger.com/profile/08441922955258124744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1781583973835272510.post-42677684468891750862010-12-31T00:26:00.000-03:002010-12-31T00:26:18.479-03:00Senhor Krauze: O Homem Diante do Espelho<m:smallfrac m:val="off"> <m:dispdef> <m:lmargin m:val="0"> <m:rmargin m:val="0"> <m:defjc m:val="centerGroup"> <m:wrapindent m:val="1440"> <m:intlim m:val="subSup"> <m:narylim m:val="undOvr"> </m:narylim></m:intlim> </m:wrapindent> </m:defjc></m:rmargin></m:lmargin></m:dispdef></m:smallfrac><br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: right;">Grace Kolman</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Comecei a ler o senhor krauze e não consegui parar, porque a narrativa acompanha o ritmo do meu pensamento, que também não para. Acompanha as minhas dores, que também não param: “?ja imaginou se a gente fosse feliz.”</div><div class="MsoBodyText" style="line-height: 120%;"> Ler o senhor krauze é como olhar-se no espelho sem acreditar no que se vê: </div><div align="right" class="MsoBodyText" style="text-align: right;"><br />
</div><div align="right" class="MsoBodyText" style="text-align: right;"><span style="font-size: 12pt;">olhando pra frente</span></div><div align="right" class="MsoBodyText" style="text-align: right;"><span style="font-size: 12pt;">pros olhares não se encontrarem.</span></div><div align="right" class="MsoBodyText" style="text-align: right;"><span style="font-size: 12pt;">sem conversa.</span></div><div align="right" class="MsoBodyText" style="text-align: right;"><span style="font-size: 12pt;">sem intimidade.</span></div><div align="right" class="MsoBodyText" style="text-align: right;"><span style="font-size: 12pt;">era como se o senhor krauze</span></div><div align="right" class="MsoBodyText" style="text-align: right;"><span style="font-size: 12pt;">ele quisesse me dizer alguma coisa.</span></div><div align="right" class="MsoBodyText" style="text-align: right;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> A obra é dotada de um requintado humor negro. É melhor rir, se quiser de defender dessa inimitável sátira social.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> A obra toca nos nossos medos mais profundos, nos nossos credos mais absurdos, nas nossas contradições e loucuras. Tem tanto a oferecer que fica difícil de listar as qualidades socioliterárias dessa obra. O “senhor krauze” deve ser degustado com os cinco sentidos, talvez até com o sexto. É como ler Salman Rushdie, autor dos Versos Satânicos. No começo é confuso, mas é pela confusão que vem o sentido. Cabe ao leitor entregar-se de corpo e alma. Foi assim que entrei em sintonia com o “senhor krauze”. Ele quer o leitor perto, quer tocá-lo. Usa a escritura como uma mão que te pega de surpresa.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> É essa linguagem cibernética que dá um toque de vanguarda à obra, traduzindo pela veia literária a tecnologia e o caos do mundo contemporâneo. Quando iniciei a leitura do “senhor krauze”, sabia que o texto me pertencia. É como se eu mesmo o tivesse escrito. Esse sentimento de posse é algo que também encontrei nas obras de Gaston Bachelard. Não há faz de conta. Não há falsa beleza. Somente poesia pura, rude, envolvente. A forma se transforma em personagem, deixa o leitor encucado; encantado: como pode a própria escritura ser um personagem do “conto”? Essa linguagem “bastarda” e “híbrida” torna a obra dinâmica, excitante, alucinante, chocante e deliciosa. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Caldas apresenta uma alternativa à literatura burocratizada, amordaçada pela necessidade de agradar, para vender. O senhor krauze é a literatura fora do buraco.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><br />
</div><div align="right" class="MsoBodyText" style="text-align: right;"><span style="font-size: 12pt;">?descobrimos quem somos.</span></div><div align="right" class="MsoBodyText" style="text-align: right;"><span style="font-size: 12pt;">acho q não.</span></div><div align="right" class="MsoBodyText" style="text-align: right;"><span style="font-size: 12pt;">o verdadeiro é falso</span></div><div align="right" class="MsoBodyText" style="text-align: right;"><span style="font-size: 12pt;">y o falso é verdadeiro:</span></div><div align="right" class="MsoBodyText" style="text-align: right;"><span style="font-size: 12pt;">nenhum dos dois vale nada.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Assim é o “senhor krauze”:</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><br />
</div><div align="right" class="MsoBodyText" style="text-align: right;"><span style="font-size: 12pt;">tudo ta ficando claro:</span></div><div align="right" class="MsoBodyText" style="text-align: right;"><span style="font-size: 12pt;">claro demais:</span></div><div align="right" class="MsoBodyText" style="text-align: right;"><span style="font-size: 12pt;">eu sou o senhor krauze.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> E estou diante do espelho.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> O senhor krauze é um “conto” fascinante. Assim como eu, sei que outros leitores vão encontrar passagens nesse livro que não esquecerão jamais.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div>alberto lins caldashttp://www.blogger.com/profile/08441922955258124744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1781583973835272510.post-80557004793426684082010-12-31T00:19:00.000-03:002010-12-31T00:21:01.829-03:00Comentario de Marcelo Ariel<m:smallfrac m:val="off"> <m:dispdef> <m:lmargin m:val="0"> <m:rmargin m:val="0"> <m:defjc m:val="centerGroup"> <m:wrapindent m:val="1440"> <m:intlim m:val="subSup"> <m:narylim m:val="undOvr"> </m:narylim></m:intlim> </m:wrapindent> </m:defjc></m:rmargin></m:lmargin></m:dispdef></m:smallfrac><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">“senhor krauze”, de alberto lins caldas, é um livro que dialoga sutilmente com o “kadosh” de hilda hilts, mas não cai na armadilha de tentar explodir o muro da metafísica cristã com a bomba-beckett. com o “senhor keuner” de bertold brecht, mas não é refém de uma instrumentalização pedagógica da atmosfera mítica das fábulas de franz kafka. é livro que desmonta as fronteirazinhas entre poema, e-mail, texto de bate-papo na internet, monólogo dramático, sátira e outras classificações da nossa fragmentária e insuficiente expressividade verbal & escrita contemporânea, fragmentária e absolutamente inconclusa e insuficiente diante do horror que em parte é construído por ela. existe sim um horror que ganha a estatura de um buraco branco quando o colocamos diante dele mesmo, como um espelho diante de outro espelho em um lixão. "o que há dentro de um nome?" perguntava leopold bloom no “ulisses” de james joyce e “senhor krauze” explora com um lirismo selvagem e sarcástico a quantidade de camadas de um horror-buraco-branco nada metafísico que cabem dentro dessa pergunta: o que realmente há dentro de um nome? talvez um convite para combater esse horror que nos espera fora do espelho e em seus símiles dentro dele.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">marcelo ariel</div>alberto lins caldashttp://www.blogger.com/profile/08441922955258124744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1781583973835272510.post-82674457991523009532009-07-29T16:40:00.001-03:002009-07-29T16:42:21.362-03:00LITERATURA EM CARNE VIVA<p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoFlz2RMQkCLrx5rJDQEV7r0ZeCk6pf6182hNF2lfDrHk1FS3uhtrwBq3TZ5juVrpGqUIG6Evmpkl8U3F5ojCbI75amZ_rsEBHjri1N9-f4ErP6SwnXiEhuyXc7gtqy4po9h0gc3UC4CAV/s1600-h/sk0%5B4%5D.jpg"><img style="border-bottom: 0px; border-left: 0px; display: inline; margin-left: 0px; border-top: 0px; margin-right: 0px; border-right: 0px" title="sk0" border="0" alt="sk0" align="left" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTM1Tk4JEN52NjeVH2JSZhM_CY42xwk4nWeL4QMIYkeb44Irrtnh_kWoQOUPlWjDYx9cExz3_a3tb92R3UkjmFm7YhvGUMy3lYT2tbLygvzRFs5ojdAvlaLOXAfc6ZvsIBb8HHiOABDV5M/?imgmax=800" width="199" height="221" /></a>“senhor krauze”, assim mesmo todo minúsculo, como em minúsculo é todo  o livro, faz parte daqueles livros que tomam para si a missão inteira de expor o horror do mundo, o silenciamento, a exclusão, a destruição da singularidade. Para isso usa várias formas literárias. A mais visível é a forma-poema, mas também é um grande monólogo trágico ao mesmo tempo em que é romance, novela, conto. Essas múltiplas formas nos põe diante realmente duma sátira menipéia, e não podemos, aqui, apesar de tudo, perder o riso, mas também é um grito de revolta contra o esmagamento da própria voz.</p> <p>É prosa sem deixar de ser poesia enquanto forma esmagada por todos os lados, daí a impressão de poema: a própria forma faz aparecer forças internas que moldam as perspectivas, as histórias, as vidas: não há diferença entre o narrador, as histórias e o desenho final.</p> <p>Também parece monólogo, diálogo, teatro enfim: e o teatro desaparece numa cena única que se esgarça sem perder o eixo, a potência. Ação viva de revolta literária, também contra a própria incapacidade literária em ser mais do que um “contar uma fábula”, instrui outro fazer, outro exercício, outra forma, outra literatura, pois se faz com uma contra gramática, numa língua particular, única, com sua musicalidade atingindo o campo inteiro das manifestações, superando a voz do letrado escritor por trás das suas criaturas. O narrador do “senhor krauze” existe tanto quanto o leitor e desse leitor nada necessita.</p> <p>“senhor krauze” é fundação dum outro olhar, sem brasilidade, sem regionalismos, sem localismos camuflados e, principalmente, sem a européia e estadunidense universalidade. Obra nua, crua, violenta, perversa, em carne viva que, diante do horror, diante da literatura sempre insossa, propõe o enfrentamento em todas as linhas como forma-fazer literário, contra o existente.</p> <p>Você não leu nada igual!</p> alberto lins caldashttp://www.blogger.com/profile/08441922955258124744noreply@blogger.com1