quarta-feira, 29 de julho de 2009

LITERATURA EM CARNE VIVA

sk0“senhor krauze”, assim mesmo todo minúsculo, como em minúsculo é todo  o livro, faz parte daqueles livros que tomam para si a missão inteira de expor o horror do mundo, o silenciamento, a exclusão, a destruição da singularidade. Para isso usa várias formas literárias. A mais visível é a forma-poema, mas também é um grande monólogo trágico ao mesmo tempo em que é romance, novela, conto. Essas múltiplas formas nos põe diante realmente duma sátira menipéia, e não podemos, aqui, apesar de tudo, perder o riso, mas também é um grito de revolta contra o esmagamento da própria voz.

É prosa sem deixar de ser poesia enquanto forma esmagada por todos os lados, daí a impressão de poema: a própria forma faz aparecer forças internas que moldam as perspectivas, as histórias, as vidas: não há diferença entre o narrador, as histórias e o desenho final.

Também parece monólogo, diálogo, teatro enfim: e o teatro desaparece numa cena única que se esgarça sem perder o eixo, a potência. Ação viva de revolta literária, também contra a própria incapacidade literária em ser mais do que um “contar uma fábula”, instrui outro fazer, outro exercício, outra forma, outra literatura, pois se faz com uma contra gramática, numa língua particular, única, com sua musicalidade atingindo o campo inteiro das manifestações, superando a voz do letrado escritor por trás das suas criaturas. O narrador do “senhor krauze” existe tanto quanto o leitor e desse leitor nada necessita.

“senhor krauze” é fundação dum outro olhar, sem brasilidade, sem regionalismos, sem localismos camuflados e, principalmente, sem a européia e estadunidense universalidade. Obra nua, crua, violenta, perversa, em carne viva que, diante do horror, diante da literatura sempre insossa, propõe o enfrentamento em todas as linhas como forma-fazer literário, contra o existente.

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